Iceberg

Se eu soubesse desenhar, eu pegaria todos os lápis de cores frias, uma folha em branco, de sulfite e começaria.

Eu desenharia um grande iceberg e, em volta, um mar antártido repleto de pequenos blocos de gelo flutuantes. Colocaria neve por toda a paisagem e incluiria alguns pinguins e ursos brancos. Em seguida faria o céu, azul claro, gélido, sem uma nuvem sequer. E uma neblina tão forte que o sol não conseguiria atravessar.

Eu desenharia os ventos congelantes, a geleira infinita.. e a paisagem se dividindo entre o branco e o cinza, o branco e o cinza. Sempre. Sem fim.

E no topo daquele iceberg eu desenharia uma garotinha de cabelos ruivos e sardas, perdida, conformada de que nunca ninguém vai chegar até ali e resgatá-la. Consciente de que a única maneira de sair do topo do iceberg é morrendo de frio.

Ladies & Gentlemen, the end!

Já posso sentir o cheiro. O cheiro inebriante do fim.

O final está muito muito próximo, se é que não posso dizer que ele já chegou.

Apenas um fio tênue ainda me prende, um fio de seda que me prende à parte mais importante da coisa toda, que é o fim.

Por mais deprimente que tenha sido no final, eu estou me sentindo ótima agora. Estou sentindo que mais um ciclo se completou, mas uma etapa da minha vida foi iniciada e chegou ao final e eu sei que, por mais maçante que tenha sido em vários momentos, eu aprendi com isso. Mesmo porque aprender algo com o que nos acontece é apenas uma questão de como vemos as coisas.

Esse fio tênue que me prende ao fim é o mais gratificante da coisa toda. Tem a ver com a sensação de que praticamente acabou. E de que eu cheguei ao fim fazendo algo que me dá prazer, algo que eu escolhi fazer e que ninguém pode interferir a menos que eu queira e peça a interferência alheia.

Agora somos só eu e ele.

Momento Fotenha - Weirdo

Bloody Mary?